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sábado, 31 de maio de 2014

TENDÊNCIAS: REDE SOCIAL



Jean estava cansado de sentir essa terrível angústia.

Deitado de bruços no seu sofá, ouvindo o ronco dos carros que passavam lá em baixo na rua, ele meditava na sua vida. Olhando para seu celular, que estava no chão, Jean percebeu que não tinha uma relação suficientemente forte e profunda com ninguém que conhecia. Para quem ele ligaria numa situação como essa? Ele só precisava desabafar, mas com quem podia contar?

Ele tinha diversos amigos. No trabalho, na faculdade. Amigos com quem estudou no Ensino Médio. Amigos com quem conviveu durante cursos que fizera. Amigos da igreja. Bem, o mais correto seria "amigos". Há alguns minutos, enquanto elencava os nomes dos seus "amigos", percebeu que "amigo" é um elogio profundo demais para sair distribuindo a torto e a direito. Quem o conhecia como ele realmente era, mas não se importava se ele era tão chato? Quem sabia de seus complexos e conflitos mais profundos e o ajudava com bons conselhos? Com quem ele poderia contar?

Talvez fosse egoísta de sua parte pensar assim. Sei lá. Talvez a pergunta que ele deveria estar se fazendo devia ser "será que alguém pode contar comigo?", mas, sinceramente, neste momento ele realmente precisava que alguém lhe perguntasse "posso te emprestar o meu ombro, amigo?" Sim, com vírgula depois de "ombro", porque ele não acreditava nesse negócio de "ombro amigo". Amigo é um elogio profundo demais para sair dando a ombros. Tá certo que "ombro amigo" é uma personificação, uma figura de linguagem, mas mesmo assim. 

O erro podia ser dele, Jean, que não desenvolvera esse tipo de amizade com ninguém. Talvez ele fosse exigente demais, idealista demais. Talvez ele não fosse corajoso o suficiente para contar seus sofrimentos para ninguém. Ou talvez ele não confiasse em ninguém. Sabe como são os tempos modernos: relacionamentos superficiais, homens coisificados, vida de aparências, ter mais importante do que ser... 

Pegou seu celular do chão, se revirou no sofá enquanto desbloqueava a tela e acessou o Facebook. A pergunta no campo "status" veio bem a calhar. "Como você está se sentido, Jean?": Marcou, então, que estava "se sentindo triste" e escreveu uma pequena lamentação.

Talvez ninguém se importasse com suas lamentações. Talvez isso não fosse relevante. Mas ele só estava respondendo a uma pergunta do Facebook.

Uma tendência moderna: desabafar nas redes sociais virtuais por falta de verdadeiros amigos reais.

//fim da série. 

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