O pensamento evangélico da maioria brasileira
tende a ser separatista, dualista. Quase beira o ascetismo. Veja se isso não
faz sentido pra você: há uma dimensão sagrada e outra secular na minha vida. Sagrado
é quando eu oro, leio a Bíblia, canto canções do gospel, vou à igreja, cultuo
um pouco, levanto minhas mãos, fecho meus olhos, grito “glória a Deus” ou “aleluia”,
evangelizo. É a obra de Deus. Já secular é minha vida fora do templo. Meu
trabalho é secular. Meu estudo é secular. Minha diversão e entretenimento,
seculares. São as coisas deste mundo.
Assim, sagrado e secular vivem em tensão. Meu
cotidiano é secular, mas tem uma parte sagrada: a hora do meu devocional. Meu
trabalho é secular e me impede de fazer a obra de Deus. Surgem cristãos que querem
fazer algo para Deus, mas, impedidos pela obrigação da labuta diária para
sobreviver, ficam perdidos e se consideram as pessoas mais egoístas da face da
Terra, que não conseguem “negar a si mesmos” em favor da obra de Deus.
Na real? Esse pensamento é medíocre. Mas é
exatamente ele que vem sendo proliferado nos púlpitos, nas pregações. Tudo se
torna mais difícil, pois, para os crentes, a pregação é o momento de Deus
falar. Dessa forma, o discurso torna-se inquestionável, afinal, o pregador é o
enviado de Deus para aquele dia. Eu realmente acredito que a pregação e o ensino
são de importância vital para o crescimento cristão, que Deus fala na pregação,
mas fala aquilo que está de acordo com sua Palavra. Temos, portanto, que
confrontar tudo com a Palavra de Deus. Como fizeram os bereianos.
Voltando ao assunto do post, o pensamento
medíocre do “sagrado e secular” está enraizado em todos nós. É tendência nossa
acreditar que o sagrado se encontra em templos ou em momentos. Acreditamos que “chamado”
ou “vocação” é apenas algo a se fazer dentro do lugar que chamamos igreja. “Negar
a si mesmo” é se enfurnar em quatro paredes e fazer a “obra de Deus”, nome para
“atividades da igreja”.
Não estou defendendo o negligenciar das
atividades de nossas comunidades locais. Não defendo o desconsiderar das
disciplinas espirituais. Não quero que você faça pouco caso do sagrado. Na
verdade, proponho uma sacralização do
cotidiano. Uma metanóia, um alargar de nossa consciência.
A sacralização do cotidiano não é você passar
o dia inteiro trancado num quarto orando. Muito menos se fechar nas quatro
paredes do “templo”. O nome disso é ascetismo. Quando a igreja se fecha no seu
próprio mundo, não consegue ser o sal da terra e luz do mundo. Não consegue ser
a sinalização histórica do Reino em todas as esferas da sociedade, e isso é a obra de Deus. Sal que continua
no saleiro é inútil para fazer o que lhe compete. Igreja que se tranca em seu
ritualismo é inútil.
Sacralizar o cotidiano ou cotidianizar o
sagrado é ter a consciência de que Cristo é o Senhor do homem por completo. Que
tudo o que faço, faço para o Senhor (Colossenses 3:23). Que, para o cristão,
não existem coisas sagradas e coisas seculares. “Tudo é puro para os que são
puros” (Tito 1:15).
Cotidianizar o sagrado é sacralizar meu
trabalho tendo a consciência que ele é sagrado porque é feito para Deus. É
sacralizar um jogo de futebol (não gosto, mas quem gosta), tendo a consciência
de que você joga para Deus. É sacralizar as atividades domésticas, o
entretenimento, a diversão, a hora do almoço, do jantar, o estudo, o assistir
televisão. Não engessando ou tornando religiosas essas atividades. Fazendo-as
para o Senhor, com a consciência de que o sagrado abrange todas as áreas de sua
vida.
O sagrado não está encerrado em templos ou em
momentos. O sagrado é a minha vida e tudo o que eu faço. Quero viver uma vida
em que o sagrado seja toda ela. Quero deixar de pensar que o sagrado está
apenas em uma “capela”. Quero conhecer o Deus que mora numa tenda. O Jesus que
é tabernáculo, casa de Deus andante. Que é Deus conosco, todos os dias, o dia
todo. Em todos os momentos.
Para mim, isso é uma das coisas mais iradas
de ser cristão, já que sagrado é algo separado para o serviço a Deus.
Significa, então, que nossa vida é sagrada à medida que a vivemos para Deus. E
viver para Deus não é deixar de fazer nossas atividades, mas é fazê-las com
outra perspectiva. Com Jesus, o lugar que você pisa é terra santa. O lugar que
você chega torna-se sagrado. Em Cristo, o
seu cotidiano é sagrado!
Netto Britto =D
Uau... demais! Mais uma vez, sem palavras! Que Deus continue sendo sua inspiração!
ResponderExcluirObrigado, Zhé! Obrigado pelo retorno, pelo incentivo! Muito obrigado! =D
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