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sábado, 2 de novembro de 2013

POR UMA SACRALIZAÇÃO DO COTIDIANO


O pensamento evangélico da maioria brasileira tende a ser separatista, dualista. Quase beira o ascetismo. Veja se isso não faz sentido pra você: há uma dimensão sagrada e outra secular na minha vida. Sagrado é quando eu oro, leio a Bíblia, canto canções do gospel, vou à igreja, cultuo um pouco, levanto minhas mãos, fecho meus olhos, grito “glória a Deus” ou “aleluia”, evangelizo. É a obra de Deus. Já secular é minha vida fora do templo. Meu trabalho é secular. Meu estudo é secular. Minha diversão e entretenimento, seculares. São as coisas deste mundo.
Assim, sagrado e secular vivem em tensão. Meu cotidiano é secular, mas tem uma parte sagrada: a hora do meu devocional. Meu trabalho é secular e me impede de fazer a obra de Deus. Surgem cristãos que querem fazer algo para Deus, mas, impedidos pela obrigação da labuta diária para sobreviver, ficam perdidos e se consideram as pessoas mais egoístas da face da Terra, que não conseguem “negar a si mesmos” em favor da obra de Deus.
Na real? Esse pensamento é medíocre. Mas é exatamente ele que vem sendo proliferado nos púlpitos, nas pregações. Tudo se torna mais difícil, pois, para os crentes, a pregação é o momento de Deus falar. Dessa forma, o discurso torna-se inquestionável, afinal, o pregador é o enviado de Deus para aquele dia. Eu realmente acredito que a pregação e o ensino são de importância vital para o crescimento cristão, que Deus fala na pregação, mas fala aquilo que está de acordo com sua Palavra. Temos, portanto, que confrontar tudo com a Palavra de Deus. Como fizeram os bereianos.
Voltando ao assunto do post, o pensamento medíocre do “sagrado e secular” está enraizado em todos nós. É tendência nossa acreditar que o sagrado se encontra em templos ou em momentos. Acreditamos que “chamado” ou “vocação” é apenas algo a se fazer dentro do lugar que chamamos igreja. “Negar a si mesmo” é se enfurnar em quatro paredes e fazer a “obra de Deus”, nome para “atividades da igreja”.
Não estou defendendo o negligenciar das atividades de nossas comunidades locais. Não defendo o desconsiderar das disciplinas espirituais. Não quero que você faça pouco caso do sagrado. Na verdade, proponho uma sacralização do cotidiano. Uma metanóia, um alargar de nossa consciência.
A sacralização do cotidiano não é você passar o dia inteiro trancado num quarto orando. Muito menos se fechar nas quatro paredes do “templo”. O nome disso é ascetismo. Quando a igreja se fecha no seu próprio mundo, não consegue ser o sal da terra e luz do mundo. Não consegue ser a sinalização histórica do Reino em todas as esferas da sociedade, e isso é a obra de Deus. Sal que continua no saleiro é inútil para fazer o que lhe compete. Igreja que se tranca em seu ritualismo é inútil.
 Sacralizar o cotidiano ou cotidianizar o sagrado é ter a consciência de que Cristo é o Senhor do homem por completo. Que tudo o que faço, faço para o Senhor (Colossenses 3:23). Que, para o cristão, não existem coisas sagradas e coisas seculares. “Tudo é puro para os que são puros” (Tito 1:15).
Cotidianizar o sagrado é sacralizar meu trabalho tendo a consciência que ele é sagrado porque é feito para Deus. É sacralizar um jogo de futebol (não gosto, mas quem gosta), tendo a consciência de que você joga para Deus. É sacralizar as atividades domésticas, o entretenimento, a diversão, a hora do almoço, do jantar, o estudo, o assistir televisão. Não engessando ou tornando religiosas essas atividades. Fazendo-as para o Senhor, com a consciência de que o sagrado abrange todas as áreas de sua vida.
O sagrado não está encerrado em templos ou em momentos. O sagrado é a minha vida e tudo o que eu faço. Quero viver uma vida em que o sagrado seja toda ela. Quero deixar de pensar que o sagrado está apenas em uma “capela”. Quero conhecer o Deus que mora numa tenda. O Jesus que é tabernáculo, casa de Deus andante. Que é Deus conosco, todos os dias, o dia todo. Em todos os momentos.

Para mim, isso é uma das coisas mais iradas de ser cristão, já que sagrado é algo separado para o serviço a Deus. Significa, então, que nossa vida é sagrada à medida que a vivemos para Deus. E viver para Deus não é deixar de fazer nossas atividades, mas é fazê-las com outra perspectiva. Com Jesus, o lugar que você pisa é terra santa. O lugar que você chega torna-se sagrado. Em Cristo, o seu cotidiano é sagrado!

Netto Britto =D

2 comentários:

  1. Uau... demais! Mais uma vez, sem palavras! Que Deus continue sendo sua inspiração!

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    1. Obrigado, Zhé! Obrigado pelo retorno, pelo incentivo! Muito obrigado! =D

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